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Não sou um grande homem




 

Eu adorava meu pai. Ele era inteligente, culto, curioso e gostava muito de ensinar. Me ensinou a tocar clarinete e saxofone, a mexer com máquinas, tornos e serras elétricas,  a desenhar e a fazer escultura. Durante muitos anos ele foi meu herói e não existia ninguém no mundo melhor que ele. Meu pai era honesto e se dedicava à família com muita responsabilidade. Meu pai era o que normalmente chamamos "Um Grande Homem”. Porém hoje penso que meu pai não era um grande homem. Ser honesto e trabalhador é o mínimo que se deve esperar de um homem inteligente. Se dedicar aos seus filhos é o mínimo que se deve esperar de qualquer pai. Amar a sua própria família é o mínimo que se pode esperar de qualquer pessoa. Um Grande Homem tem que ser mais do que isso, um grande homem é aquele que "ama ao próximo como a si mesmo”, que seu campo de interesse ultrapassa o pequeno círculo de sua vida, que se dá inteiro para melhorar o mundo e a vida daqueles que sofrem injustiças ou que precisam de ajuda. Gandhi era um Grande Homem, lutou pelos direitos civis e pela liberdade de seu povo através da não violência. Alexandre o Grande, apesar do título, não era um Grande Homem, ele foi certamente um grande General, talvez o maior, mas buscava a satisfação pessoal, queria poder e conquistas pessoais. Alexandre, porém, havia sido aluno de Aristóteles, era inteligente, flertava com a sabedoria e um dia, quando andava por Corinto, fez questão de conhecer o filósofo Diógenes, tido como uma pessoa totalmente desinteressada pelos bens materiais, adepto da mais extrema pobreza, que nem tinha casa e vivia em um grande barril no caminho da cidade. Alexandre, certo de que com seu poder seria capaz de corromper aquela alma, resolve fazer um desafio. Pede que o levem até Diógenes, e quando o encontra deitado à beira da estrada tomando sol, se dirige a ele, cheio de pompa, vestido de general, acompanhado por oficiais e diz: “Peça-me o que quiseres que eu te darei”. Diógenes então olha para ele e fala: “Por favor, chega pra lá porque você está me fazendo sombra.” Diógenes, como homem que busca a verdade, era um grande Homem.

São Francisco era um Grande Homem, Joana D’Arc, Madre Tereza, Rosa de Luxemburgo, Aracy de Carvalho, Malala, Harriet Tubman, Mujica, Mandela, Buda, Jesus Cristo, existem muitos Grandes Homens e Mulheres, mas nem sempre ou talvez nunca, os “Grandes Homens” são bons pais ou bons cônjuges, muitas vezes nem pais eles são porque estão mais preocupados com o mundo do que com eles próprios. Imagino todas as pessoas que  perderam a vida durante a ditadura militar, por lutarem por paz e justiça, e, quando pegos, torturados e obrigados a delatar seus companheiros, preferiram sofrer ou morrer do que trair. Grandes Homens e Grandes Mulheres. Eu tenho o maior respeito, até porque acredito que eu não seria capaz de me portar assim, amo muito minha família, minhas mãos que tocam e trabalham, meu corpo todo, minha vida: não sou um Grande Homem.

 

Betinho sim, foi um Grande Homem. Dedicou sua vida a melhorar a vida dos outros, cunhou a frase “quem tem fome tem pressa” foi perseguido, exilado, viveu em duríssimas condições. Betinho fundou a Ação da Cidadania em 1993, formando uma imensa rede de mobilização de alcance nacional para ajudar 32 milhões de brasileiros. Betinho lutou até morrer.

Eu não sou um Grande Homem, mas fazer a estátua em homenagem ao Betinho, a pedido da Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e Pela Vida", me faz sentir pelo menos um pouquinho maior.


Sou também maior nas fotos de @victor_hugo_cecatto




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