
A Estátua e a Pedra (e o barro e o bronze)
Saramago divide o percurso dos seus romances em duas partes – a primeira, até “O evangelho segundo Jesus Cristo”, associada à figura da “estátua”, que outra coisa não é que a “superfície da pedra”, e a segunda, a partir de “Ensaio sobre a Cegueira”, a da “pedra”, que pretendeu entrar “no mais profundo de nós mesmos”, numa “tentativa de perguntar o quê e quem somos”. Existem basicamente duas maneiras de se fazer uma estátua. Por remoção ou por acréscimo. Na primeira, se parte

Movimento, Imobilidade, leveza.
A Imobilidade é o próprio da escultura. Pela imobilidade a escultura vence o tempo, ficando além das mudanças do ser e das vontades. Assim as estátuas egípcias buscavam a eternidade da alma, as gregas o equilíbrio e a harmonia das proporções. Mesmo quando a escultura representa movimento como alguém correndo, ela normalmente está parada. Outra limitação da escultura é a gravidade. Assim como nós humanos, a escultura está sempre presa ao chão. Podemos voar de balão, de avião,

Janelas
Quando eu era criança, do terraço de minha casa dava pra ver de longe, saindo do meio das copas das árvores, o teto de uma casa com duas janelas. Não parecia uma casa grande, mas uma casinha, de contos infantis. Eu ficava imaginando como seria a vida das pessoas que moravam ali. "Via" uma senhora com cara de vovó bondosa tomando chá com waffle e mel e contando histórias. Um dia, andando pelas ruas da frente, pra procurar a casa, me dei conta de que não era uma casa, mas um gr