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Série de Luminárias - Arte?

Penso que a grande questão em torno da Arte: Isso é Arte? já não é uma grande questão. Antes do cinema, do computador, dos celulares e de tanta tecnologia que invade nossas cabeças, as artes visuais ocupavam um lugar muito importante na vida das pessoas. Os salões e de arte eram o que hoje é a festa do Oscar. Os ânimos se inflamavam, pessoas discutiam, gritavam, brigavam, duelavam para defender suas convicções, seus gostos e suas opiniões.

Grandes filósofos como Kant, Nietzche, Hegel (e muitos outros) dedicaram inúmeras páginas ao estudo do belo, do sublime, da criação artística. Hoje quase ninguém se interessa em saber se algo é ou não é Arte. Tudo pode ser Arte, dependendo da apresentação, da vontade, do gosto, do lugar onde está exposto, do momento ou de qualquer coisa. A Arte não precisa, e para muitos não pode ser bela. Sim, qualquer coisa pode ser Arte, mas ainda assim me parece que a idéia Kantiana de que Arte não pode ser útil ainda sobrevive. Uma cadeira por exemplo, não é arte, porque ela serve para acolher alguém que quer sentar, mas se voce pega a cadeira, vira de cabeça pra baixo e dá um titulo qualquer como "Eucaliptos", a coisa pode virar Arte. Assim, foi com o urinol "fontaine", os escorredores, rodas de bicicleta, "objets trouvés" de Duchamp, viravam Arte porque eram retirados por um artista, de seu uso quotidiano.

De minha parte, nunca concordei com o conceito que diz que tudo que tem utilidade não é Arte. Vivi numa casa onde Guignard havia passado um tempo, e durante sua estadia, ele pintou tudo o que pode: o teto, o portão, molduras de armários e portas. Me lembro do teto da sala de jantar e especialmente de uma porta que era dividida em três quadros. Um São Sebastião, uma pomba representando o Espírito Santo e uma jangada no mar. Aquilo era uma porta, portanto servia pra dividir dois ambientes, era útil, mas nunca deixou de ser arte por isso.

Em 1973, a Cia. aérea Braniff contratou Alexander Calder para pintar um avião. O resultado foi uma arte kinética, "Flying Colors" uma espécie de escultura colorida que atravessava o céu, sem deixar de levar um monte de gente dentro.

Enfim, não preciso procurar mais exemplos de utilitários que são Arte, até porque acho que atualmente, ninguém está muito preocupado com isso, mas escrevo para apresentar minha série de 7 luminárias, que considero "arte" mesmo que elas sirvam para iluminar.

Talvez o que realmente importa, é o efeito que a coisa causa. Se alguma coisa te tira da realidade árida das obrigações práticas e te faz pensar, sonhar, questionar, "viajar", muito provavelmente voce está lidando com Arte.

Nas luminárias abaixo, todas as peças são soltas e podem mudar de lugar sobre a chapa de aço. Aliás elas podem também mudar de chapa de aço e voce pode compor a sua escolhendo a peça que voce acha que vai bem sobre a placa que escolher. Aqui vai a minha escolha e em seguida explico por quê. A sua escolha pode ser diferente.

1 - A Patinadora - Ela deslizou graciosamente pelo gelo deixando um sulco iluminado no chão. Quantos anos ela precisou para aprender a fazer isso? Como ela se chama? Quantos anos tem? Quantas dificuldades passou na vida? No que ela pensa quando está patinando?

2 - Paz - Como tantas palavras, a Paz é uma palavra desgastada porque muito se fala da Paz sem compromisso. Já vi muita gente pendurar na janela faixas dizendo "Basta de Violência". Sim, não queremos violência, mas o que é que a gente faz pra melhorar? Quantas vezes gritamos, xingamos, discutimos e pensamos que a culpa é sempre do outro? Por isso, mas do que falada, a paz deve ser pensada, meditada. O pequeno Gandhi que a acompanha vem de um antigo modelo feito por minha mãe, Ivna.

3 - Ulisses - Esta foi feita com o Ulisses, o cachorro de Clarice Lispector. É o mesmo que acompanhou as maquetes da estátua da Clarice. Ulisses como todo cachorro tem amor incondicional pelo dono. Nada mais importa para ele, pode passar um urso por trás que ele não tem medo. Cachorros são puros e não guardam rancor. "Tente ser aquela pessoa que seu cachorro pensa que você é."

4 - O Gato - Naum Alves de Sousa era um autor e diretor de teatro. Uma vez sem me conhecer me chamou pra fazer as músicas das peças dele. Fizemos muitas peças juntos. Ele adorava gato e um dia me deu esse gatinho que mora na minha sala. Fiz cópia em bronze do gatinho, e coloquei ele seguindo as pegadas luminosas. De quem e porque, cada um tira suas próprias conclusões.

5 - Assim como a Paz, o Amor é desgastado. Fala-se muito e ama-se pouco. Essa mocinha pensativa foi feita em terracota por meu pai. Mandei fundir em bronze e la está ela sonhando com seu amor.

6 - Proust - Essa é a maquete da estátua de Proust que fiz para a cidade de Cabourg, onde ele escreveu "À L'Ombre des Jeunes Filles en Fleur". Este Proust andava solto na minha mesa, agora ganhou um lugar ideal, iluminado pelas "raparigas em flor". Pensar em Proust é pensar em Arte.

7 - Gulliver - Acho que meu fascínio com Gulliver tem a ver com meu fascínio pela escultura. Sempre quis ter pessoinhas miniaturas de verdade, e também sempre me admirei com gigantes. Assim é a escultura, você é gigante quando faz uma maquete, você é minúsculo quando faz uma estátua monumental. Na realidade, de que tamanho você é, se tudo é tão relativo?

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